domingo, 21 de dezembro de 2008

Clausura de um coração.

O coração roça a caixa toráxica. Quer cruzar a linha de chegada antes. É um coração enclausurado se debatendo no espaço que o cabe; sem caber.

Quer cruzar apenas para recomeçar.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Prazo,

Ao ato de abrir um livro ao léu, ele adicionou seriedade e fé.

domingo, 14 de setembro de 2008

Sorvete

Em detrimento a todo e qualquer movimento externo, ela mexia as pernas, uma sobreposta a outra e meio esticadas: era movimento de reflexão. Reflexão amparada pelo gosto doce e prazeroso da gordura saturada, um delicioso sorvete com caldas tantas...

Os olhos, hipnotizados, não desviavam um milímetro sequer do derretimento guloso daquela densidade pastosa. A boca exercia o ato de comprimir a massa-pastosa-gelada com a língua no céu da boca, ouriçando, assim, as papilas gustativas que, eretas, estimulavam um certo ‘doce viver’. Seu corpo volumoso descansava sobre a protuberância recheada de tecido adiposo irrigado sofregamente pelo coração que batia em ânsias.

O sorvete gelava aquela mulher obesa que esquecia, reflexiva, o quente-rubro que nunca derrete, antes, umedece. Aliviada em respirações entrecortadas pela má posição ortopédica seguia, ainda, o ritmo das pernas que balançavam reflexivas; era o regozijo de uma vingança que latejava naquele sorriso melado pelo sorvete que escorria gelado no cantinho dos lábios em líquido escuro: chocolate.

sábado, 23 de agosto de 2008

Fragmentos

Por trás do rangido dos bambus lamentos. Dois em absoluto líquido misturavam-se aos ruídos aguaceiros: todos imensidão.

***

Somente panos; brancos ao sabor do caminhar. A boca, negra, pronuncia, já úmida: Ôrra!


***

: Mulher, parece uma coisa...


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Mas, vem cá. Que porra é o humano?


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Passos sisudos, olhar concentrado adiante. Embaixo do braço a Moral prestes a ser declamada.

domingo, 3 de agosto de 2008

Impasse

Vi-os dispostos lado a lado e meio pensos. Para me certificar da sua realidade, com a ponta dos dedos indicadores, percorri-os em texturas lisas e enrugadas e empoeiradas. Estavam realmente ali, parados, meus desejos. A inércia com que os senti me aterrorizou a alma. Nunca mais me propus desorganizá-los em movimentos desqualificados, no entanto, sinceros. Não...; jamais os percorri seguro. Havia sempre um constante hesitar quando os manipulava. Eu os respeitava, é óbvio. São tantos os nomes que essa realidade-textura inventa. Acho, agora, que eu os respeitava demais. A multiplicidade das nomenclaturas que os mesmos adquiria me esfuziava e, ainda, lamentava. Quão loucas são as sensações que o contato gerado entre nós criava. Desejos, livros, prazeres, medos, razões, visões... Sempre os tive em movimentos matreiros e fugidios entre os dedos. Eu não os definia e quando a pele coçava algo deles me falava. O olho ardia. O medo envolvia. A razão, ora sentimento. Não havia fim e dentro do processo a necessidade de umas inventividades. Nomes pairavam no refluxo do fluxo que já não avançava ou seguia sua linha adiante. Doía, eu sei que doía e o código não captava, ahh, não capta.

Eu sei disso.

Eu sei disso.

Eu sei disso.

Mas, isso, disso, não importa.

O que importa?

Tudo importa. Sim, tudo importa.